Tem jazz no topo do Morro do Catete
Era mais uma sexta-feira carioca. Daquelas que os elementos mais charmosos da cidade ficam ainda mais evidentes. Onde senhoras bebericam seus chás nas redondezas do baixo Gávea, crianças fazem criancices às margens do chafariz do Parque Lage e trabalhadores vivem uma tarde preguiçosa e interminável após o banquete da hora do almoço. Naquele dia, quando o sol iniciou o seu apagar, como de costume, as ruas da Cidade Maravilhosa começaram a ganhar tons. O samba começou a esquentar em Vila Isabel, sinuqueiros foram jogar no Humaitá e as mulheres da Barra começaram a se emperiquitarem.
Eu, por minha vez, me afundava no centro, me embriagava de espressos, ruelas e museus que orbitam a Rio Branco. A ligação de uma amiga me puxou para o sul, pra praça São Salvador. E no meio da “democracia de garrafas” que regia o local, um amigo me disse: “vamos num jazz no Morro do Catete?” Diante da minha resposta positiva, nos munimos de copos descartáveis cheios de Antártica (afinal, a sexta-feira é carioca) e caminhamos até a esquina da rua Tavares Bastos com a rua Bento Lisboa. É lá que regularmente passam as vans que sobem para a Comunidade Tavares Bastos, no Morro do Catete. Pra quem não conhece o Rio, subir o morro é uma coisa bem diferente, bem bacana mesmo. A experiência de entrar em ruelas, prestigiar quiosques e conversar com pessoas animadas é, por si só, um belo passeio. No caso, no meio de uma ruela encontramos o tal jazz: um palacete que, ao entrar, fazia jus ao seu nome, The Maze.
Escutei várias histórias sobre como surgiu o Maze. De todas, vou contar aqui a que eu acho mais interessante — esse site já tem muitos colunistas que são jornalistas comprometidos com a verdade, eu (o publicitário), conto a minha experiência curiosa da forma que eu achar mais poética: um inglês, ex-jornalista da BBC, veio para o Rio e se apaixonou por uma bela carioca com um tufão nos quadris. Ele fez um labirinto que também funciona como hostel e hoje, depois de muitos anos na cidade, ele faz um jazz doidíssimo no local.
Foto: Jornal Extra/ Fernando Quevedo
A vista do lugar é de arrombar a retina de quem vê. Dá pra ver um cenário que vai da Urca até a Glória de camarote. Também devo admitir, que como “paulixxxta jeca urbanóide” que sou, os quadros espalhados pelo local me chamaram tanto a atenção quanto a vista (sim). Inclusive, eles foram pintados pelo próprio inglês que é dono do lugar, Bob Nadkarni, que fica sentado em um troninho, feito um rei, durante toda a noite apreciando os shows que sacodem a casa. Os músicos que por lá tocam são de lascar. Tem também aquelas mulheres com um vozeirão que cantam pra cacete, tipo Ella Fitzgerald ou Billie Holiday. Senti falta de uma acústica um pouquinho melhor e no começo da noite achei que os frequentadores estavam meio que no clima da micareta. Definitivamente, não era um público acostumado com jazz, mas não dá pra reclamar — com o decorrer da noite eles se foram e quando iniciou o segundo show, aí sim, foi só ficar na frente do palco e pirar, escutar um baita som e ver o sol nascer naquela vista maravilhosa. Afinal de contas: era uma sexta-feira no Rio de Janeiro.
Comentários