Vale do Capão
Envoltos em uma vida cosmopolita, caótica e corrida, vivendo em cidades que – em certos momentos – são tão impessoais e sem coração quanto conseguem ser, muitas vezes precisamos recorrer a viagens e refúgios, em busca de descanso, sossego e alguma calma. Paraíso de montanhas no interior da Bahia, o Vale do Capão guarda a Vila perfeita para quem quer se reconectar com a natureza e desapegar dos excessos urbanos.
Seu nome oficial é Caeté-Açú, mas, por estar situada no Vale, todos a chamam de Capão. Para chegar lá, é só pegar um ônibus na rodoviária de Salvador em direção a Seabra, descendo em Palmeiras e pegando, em seguida, algum dos carros ou vans oferecidos até o destino final. O clima da Vila é logo sentido: parece que o lugar parou num tempo mais gostoso de viver, e abriga hippies resistentes e amantes da natureza em comunhão com visitantes e nativos.
Como parte do Parque Nacional da Chapada Diamantina, o Capão guarda trilhas que irão te testar, mas te presentear com as mais belas vistas. A célebre Cachoeira da Fumaça castiga os mais sedentários em uma enorme subida, mas perdi o fôlego mesmo na primeira vez que vi, a olho nu, a beleza estonteante daquele lugar. De querer chorar! Já o Poço do Gavião, de trilha ainda mais intensa, mas de percurso dos mais bonitos, me brindou com um gelado mergulho nas águas escuras da região. Me senti abraçada por aquele banho, ao olhar ao meu redor e não ver nada além de verde, montanhas e centenas de borboletas amarelas.
A Vila já foi descoberta pelos estrangeiros, muitos artistas de circo em busca do Circo do Capão, outros viajantes, curiosos como eu por aquele lugar mágico. A noite na pracinha, longe de ser pacata como se espera, oferece a aclamada Pizza do Capão, que pedi nos dois únicos sabores de uma vez: metade com cenoura e outra metade com banana d’água. Soa estranho? Pois é uma festa para o paladar! Principalmente quando acompanhada do perigoso mel de pimenta. Salivei com a memória!
Nessa altura do campeonato já foi possível desacelerar. As lembranças da cidade grande ficam distantes, escondidas atrás de tantos morros. O ar puro e o cheiro de mato contagiam, o cabelo fica mais bonito natural, roupas não são preocupação. Vamos beber um licor na Licoteria do Palito, para brindar a vida. Palito é uma figura que produz licores que vão do chocolate a toda sorte de frutas, passando também por flores (!!!). Nesse momento, tudo parece se encaixar, fazer sentido: a água escura e gelada que corre pelos rios, a mistura de gente diferente e interessante, a simplicidade… Um pensamento parece inevitável: “Vou largar tudo e morar no mato!”.
Comentários