BKS, ar de arquitetura
por Adolfo Caboclo, 19 de junho de 2013
E a minha história começa quando encontrei a Aline, uma moça que não via desde os tempos de escola. Ela apareceu ao acaso, na fila de espera de um restaurante, quarta-feira passada, no dia dos namorados. Enquanto esperava su novio, ela veio até minha mesa para colocar o papo em dia e descobri que a menina dos tempos do colegial virara uma mestra, arquiteta, que então comentou, “e o Não Só o Gato?”. Na hora um sorriso orgulhoso estampou meu rosto, quando ela complementou: “Eu sei de um lugar que vocês tem que conhecer”.
Se tratava da BKS, a “maior livraria especializada em arquitetura e urbanismo da América Latina”, que fica bem no prédio da IAB-SP (Instituto de Arquitetos do Brasil). No dia seguinte segui a sugestão da, agora mestra, Aline e antes de ir no lugar onde fica a BKS, fui bater um papo com o idealizador do lugar, o livreiro Antonio Ricarte, também conhecido como Toninho.
Encontrei Antonio no campus da Universidade Presbiteriana Mackenzie, numa pequena livraria , uma “BKSzinha”, no DAFAM (Diretório Acadêmico da Faculdade de Arquitetura Mackenzie). Ele estava papeando com um aluno, aliás, inúmeros alunos passavam por lá e falavam “e aí Toninho” – não foi difícil perceber que se trata de uma figura querida “da região”. Sereno, me recebeu super bem e me contou a sua história e como que surgiu a BKS.
“Eu vou começar do começo pra você entender. Sou de uma família de 10 irmãos, tudo nordestino, e há 45 anos era assim, o cara completava 18 anos e ia pra Brasília, Rio ou São Paulo. Meu irmão mais velho veio pra São Paulo, porque tinha um tio aqui e depois de dois anos veio trabalhar exatamente nessa editora”, me falou Toninho mostrando um livro da GG Editora. “Mas como o país estava em ditadura, a editora fechou aqui e foi pro México, e meu irmão ficou aqui e começou a trazer livro de fora, e implantamos essa filosofia de fazer ponta dentro da universidade, isso a 40 anos atrás. Resumindo a história de 10 irmãos, 8 trabalham com livro”. Assim Toninho começou a narrar uma história interessantíssima que contava sua trajetória como livreiro em faculdades e até mesmo em uma loja itinerante, em uma van.
Também me contou de sua enorme gama de livros. “Tem vários livros, várias revistas que só eu tenho” e comentou que tem professores que falam pra ele, “Toninho traz esse aqui da Coréia – por exemplo”, e o Toninho responde, “eu trago”. Por falar em professores, estávamos papeando em um lugar, academicamente, muito bem frequentado, um espaço de uns 10 m2 onde, segundo o próprio Antonio, é muito comum encontrar dois, três doutores papeando.
A pequena loja, dentro do Mackenzie, em que eu estava conversando com Antonio muito destoava em tamanho da matriz, a BKS, de 140 m2. Um espaço que era um sonho antigo do Antonio, que ele passou muitos anos tentando alugar, e a dois anos atrás conseguiu realizar tal sonho. Então, depois de um ótimo papo, me despedi do Toninho e fui caminhar em direção a Rua Bento Freitas, no centro de São Paulo, para conhecer a matriz da BKS.
No momento em que saí do Mackenzie, o clima estava maravilhoso, era a primeira vez que caminhava na frente do meu antigo serviço depois de voltar da Europa, e, inspirado por alguns livros que reparei no acervo do Toninho, percebi alguns detalhes da rua onde trabalhei por anos e nunca tinha reparado. Também foi assim como nas ruas que admirei posteriormente, do maltratado centro paulistano, até chegar na Bento Freitas e ver o famoso prédio da IAB-SP. Prédio que foi financiado por arquitetos modernistas nos anos 50 e já foi frequentado por Pablo Neruda, Carlos Marighella, Tarsila do Amaral e Oscar Niemeyer (Niemeyer já era um quarentão nos anos 50, não?).
A BKS fica bem embaixo deste prédio e apesar da loja ficar em uma região da cidade com muitos escritórios de arquitetura e até mesmo faculdades, também é uma região com muitos prostíbulos e tudo mais que o “centrão” nos sugere, então foi muito bacana me deparar com um lugar tão pulsante culturalmente naquela área.
A loja é frequentada por muitos estudantes de arquitetura e também por grandes arquitetos (não é difícil encontrar lá, por exemplo, o Paulo Mendes da Rocha, o único brasileiro vivo ganhador do Prizker, que é o “Nobel da arquitetura”).
Passei um bom tempo explorando a livraria, apreciando os infinitos livros e, claro, tomando um café em sua cafeteria, o Café em Planta (sacou?). Confesso que fiquei com uma pequena vontade de me aprofundar nesse infinito mundo que é o da arquitetura e do urbanismo, que conversa tanto com as artes e até mesmo com a publicidade. Realmente, um mundo encantador.
Fotos por Adolfo Martins, Iphone 4S
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