God Speed You! Música, tecnologia e arte.
Usar tecnologia e recursos visuais, deixando de lado apenas a iluminação e o cenário estático, já não é novidade há um tempo no meio da música. Se destacam os artistas que fazem da tecnologia um potencializador de suas performances, criando toda o espetáculo em torno desse novo membro da banda. E as referências atuais são infinitas, vai desde o holograma do Tupac, aos impressionantes LED dos shows do Massive Attack e a mistura épica de recursos nas apresentações da Beyoncé.
Só que este mês vi algo diferente. Em um pequeno teatro em Sydney (Austrália), uma banda revelou para mim uma outra forma de fazer música com tecnologia. Era um show da banda canadense, God Speed You Black Emperor, definida por aí como post-rock.
A diferença entre o God Speed You! e os outros grandes espetáculos é que a projeção visual não é ‘mais um membro da banda’, ela tem peso igual ou maior que a música, ela conta uma história.
A música é como uma trilha sonora da narrativa construída a partir das imagens e vídeos. No meu entendimento, eles contam a história do mundo, com uma pegada meio apocalíptica. De repente teve gente que achou que significava outra coisa, achei bom ser aberto a interpretações. Cada música seguia por mais de 10 minutos, fazendo um convite a completa imersão.
Me lembrou o resgate da psicodelia dos anos 60, adaptada pros dias de hoje. Filmar o show não dá conta de registrar a experiência, tem que ir. Curioso como mesmo tão tecnológica, a experiência só é completa se ao vivo, um live streaming do show não teria a menor graça.
É como o trabalho do carioca Amon Tobin, que impressiona no uso do 3D, expandindo a ‘projeção’ de show para uma ‘instalação’ de show.
Por fim não poderia deixar de fora o compositor eletrônico Ryoji Ikeda, que usa som e visual por meio de uma estética matemática. Ele elabora orquestra, som, efeitos visuais e noções matemáticas em performances ao vivo e instalações. O interessante do trabalho desses artistas é que os recursos visuais e sonoros ganham forma de performance artísica, é quase um ‘colaborarte’, onde músicos se unem a engenheiros visuais e artistas para criar uma experiência mais completa. É mais do que se experimenta em um museu de arte contemporânea e é mais do que um show.
O trabalho de cada artista na sua área, multidisciplinar como é, cria algo novo. Espero que a interação entre artistas de diferentes backgrounds e talentos seja uma tendência a crescer. Para mim, esse é o grande gancho para criar coisas realmente novas e surpreendentes.
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