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O café do Mirante que começou há cinco gerações

A história por trás do café do Mirante 9 de Julho.

por Adolfo Caboclo, 28 de agosto de 2015
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Quero começar esse texto com a letra de um samba que o meu “comparsa” Flávio Lobo compôs este ano:

“Hoje eu não vou reclamar
Embora a vida ande dura demais
Não posso desanimar, do prejuízo tô correndo atrás
Para que não seja em vão
O sofrimento dos meus ancestrais

Vivo tentando encontrar
Sentido e cura pra todos os ais
Eu não vou mais navegar em rio de águas superficiais
Lembro meu pai na oração
Tomo proteção e sigo em paz

Com sua benção eu sou capaz
Meu espelho, seus sinais

A minha fé não vai esmorecer
Eu vou a pé pro caminho aprender

Para que não seja em vão
O sofrimento dos meus ancestrais

Com a benção de meus pais
Meus guerreiros imortais”

Pois bem, quando escutei essa música em voz e cavaquinho pela primeira vez, fiquei muito emocionado. Justamente por viver um momento de reflexão sobre o esforço dos meus antepassados. Vivo um momento em que entendo que a minha história começou muito antes do meu nascimento e que muitos percorreram o longo caminho até o ponto em que comecei e que dificilmente chegaria sozinho. Um lance de olhar pra trás sem vislumbrar um status ou um passaporte europeu: olhar pra trás tentando ver da raiz ao fruto.

Talvez seja por isso que me encantei tanto com a história que o Felipe Croce, um dos sócios do Isso é Café, me contou ao me receber em seu studio. Logo nos primeiros minutos de papo ele me disse: “Minha família tem a fazenda do café já faz cinco gerações.” Cinco gerações que poeticamente tenta se traduzir em uma xícara esfumaçante.

Essa conversa com o Felipe rolou na semana passada. O “descobri” diante da vontade de saber sobre o café que abriria no Mirante da 9 de Julho. Antes da inauguração do Mirante, da ciclovia da Bernardino de Campos, do bicicletário da Praça dos Arcos e do brilhante texto que o Facundo Guerra publicou (clique aqui), eu estava lá, tentando entender um pouco mais sobre essa história de plantar, colher, selecionar, torrar, extrair e vender café na atual cafeteria mais badalada da Pauliceia.

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Felipe começou sua narrativa falando da Fazenda Ambiental Fortaleza, que como disse, é um local que pertence a sua família já faz cinco gerações – em Mococa, SP.

Por lá, sua mãe começou a implantar uma cultura orgânica, enquanto seu pai trabalhava com exportação. Foi em meados dos anos 2000 que eles sacaram que as pessoas começavam a exigir um bom café e também perceberam que o Brasil se encontrava em um patamar econômico muito melhor: era a hora de exportar um café brazuca de primeira.

Foi em 2009 que Felipe, com apenas 21 anos, resolveu voltar de uma temporada de estudos sobre empreendedorismo e café lá na gringa, morar em Mococa, arregaçar as mangas e fazer o negócio cafeeiro rolar de vez.

E rolou, seja encontrando compradores pelo globo ou costurando parcerias com outros produtores e impondo um alto padrão de qualidade através de um selo, o “FAF Coffees” (FAF, no caso, de Fazenda Ambiental Fortaleza). O local onde eu convesei com o Felipe, o FAF Studio, é onde ele recebe mais de 500 mostras de café por safra e funciona como um laboratório de grãos. Um verdadeiro Q.G. localizado na zona oeste paulistana.

Depois de muito exportar café através da FAF, bateu em Felipe a vontade de vender cafés em terras tupiniquins, então, junto com os profissionais da gastronomia Wago Figueira e Fafá Nakasato, ele abriu o simpático Isso é Café. Um café pra uma galera mais jovem, com uma identidade visual mais hypada e tudo mais.

Em junho, Felipe recebeu convite do Facundo Guerra de fazer café no Mirante da 9 de Julho. “Vamos fazer café?”, perguntou o empresário. “Vamos!”

O resto da história, o café do Mirante, quem não conheceu ainda (essa semana ficou absolutamente lotado), irá conhecer em algum momento da rotina paulistana ou então através de alguma revista ou blog de inovação. Por aqui prefiro escrever sobre as últimas cinco gerações da família do Felipe. Sobre a pegada materna e orgânica, paterna e exportadora. Acho que um café com a benção do anscestrais abençoa até mesmo o cinza da 9 de Julho. Prefiro acreditar nesse samba.

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Adolfo Caboclo

Artista e pugilista. @adolfinhocaboclo

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