Ao Sesc, com amor
Reflexões sobre Bill Viola e o Sesc-SP
Fui uma criança que passeou muito no shopping e pouquíssimo no museu. No tempo em que estudei em um tradicional colégio da zona norte paulistana, essa escola organizava anualmente passeios ao Hopi Hari ou ao Parque da Mônica, mas jamais fez uma excursão ao Masp, Pinacoteca ou MAM. Nos primeiros anos da minha vida, a instituição que fomentou a maior parte da minha formação cultural foi o Sesc-SP.
Com três anos de idade, aprendi a não temer as águas nas piscinas do Sesc de Bertioga e, hoje, aprendo a não temer a queda como integrante da equipe de judô da unidade da Paulista da instituição. Quatorze anos atrás, conheci minha companheira forrozeando pelos salões “sescquianos”. Os momentos de maior qualidade em que convivi com meus pais também foram em suas tantas unidades.
O Sesc me permitiu ver coisas que raramente chegariam ao Brasil, como o palhaço Avner Einsenberg, o excêntrico – estadunidense considerado por muitos o melhor palhaço do mundo – ou então o francês Yann Tiersen, multi-intrumentista responsável pela trilha sonora do filme Le fabuleux destin d`Amelie Poulain (Jean-Pierre Jeunet, 2001). No Sesc, dancei ciranda com Lia de Itamaracá, carimbó com Dona Onete, sambei com Paulinho da Viola e Alcione, entrei em estado meditativo com a arte de Marina Abramovic e assisti palestras de nomes como os de Angela Davis e Edgar Morin durante os últimos anos do período pré-pandêmico.
Ao lembrar de exposições diversas, apenas em 2019 vi Sebastião Salgado, Anna Bella Geiger e Cildo Meireles.
Decidi fazer este texto, com tanta memória afetiva, exaltando o Serviço Social do Comércio, motivado por um livro que estou lendo atualmente: Theories and Documents of Contemporary Art (Kristine Stiles e Peter Selz, 2012). Em seu capítulo sobre arte e tecnologia, a obra aborda a carreira do artista estadunidense Bill Viola. Durante essa leitura me lembrei que, poucos anos atrás, na inauguração do Sesc Avenida Paulista, pude ver uma exposição do artista, que é, possivelmente, o maior nome do “vídeo arte” no mundo (posso usar esse termo, produção? Não, né?).
Ao acabar de ler tal capítulo, revirei minha biblioteca para achar o catálogo da exposição que comentei. Senti um misto de gratidão pela oportunidade de já ter prestigiado Bill Viola, e também uma saudade enorme da vida pré-pandêmica. E do Brasil um pouco mais civilizado. Vivemos tempos em que, mais do que nunca, devemos proteger o sistema “S”. Precisava registrar isso.
O poeta Vladimir Maiakovski tem uma frase ótima: “a arte não é espelho para refletir, mas martelo para forjá-lo”. De fato, Bill Viola tem uma obra, a “Nantes triptych” (1992), com a qual passei o dia inteiro refletindo. Nela, Bill reúne os vídeos do nascimento de seu filho, em 1988, e de sua mãe, prestes a falecer, em 1991. Essa obra possui mais camadas do que se pode escrever por aqui, mas uma de suas mensagens é justamente relacionada com algo cíclico, sobre a constância da vida.
Bill Viola também me lembrou que a roda do meu existir não teria sentido algum sem o Sesc.
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